domingo, 9 de agosto de 2009

O recado do homem público

O recado foi-me dado.Era uma voz mulata. Uma voz doce.
O recado, aclamado em forma de poesia, ao som dos coríntios e cantado à peito cheio, me atingiu num toque leve e sereno.
O recado, como quem não quer nada, voou em fumaça lenta e apossou-se de um corpo doído e uma alma corroída, assoprando nos ouvidos de terceiros como a sonata de um piano maestrado, com a desculpa do neologismo, para fazer-se ouvir aos surdos que não entendem sequer clareza da música que nos faz chorar.
Em seu palco, rodeado e orquestrado, o recado declamou:

Tarde aprendi que bom mesmo é dar a alma como lavada. Não há razão para conservar esse fiapo de noite velha. O que significa isso?
Há uma fita que vai sendo cortada, deixando uma sombra no papel. Discursos detonam.
Mas não sou eu quem esta ali, de roupa escura, sorrindo ou fingindo ouvir. No entanto, também escrevi coisas assim, para pessoas que nem sei mais quem são, de uma doçura venenosa de tão funda.
Não serei um poeta de um mundo caduco, também não cantarei o mundo futuro. Estou preso ao presente e olho os meus companheiros: são taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, observo a enorme realidade. O presente é tão grande! Não nos abastemos, vamos de mãos dadas.

Dei-me ao luxo de apenas concordar. Apenas concordar.

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